sábado, 24 de maio de 2014

Nos Estados Unidos, o motorista interessa às seguradoras mais que os automóveis – e Britney Spears paga mais caro.

É possível explicar a diferença entre os mercados de seguros do Brasil e dos Estados Unidos comparando apenas dois números. O mercado brasileiro tem entre 35 milhões e 40 milhões de veículos em circulação. O número não é impreciso por acaso, pois não há estatísticas consolidadas. Não se sabe exatamente quantos veículos estão rodando e quantos deixaram de circular, por envelhecimento, acidente ou roubo. A estimativa – também informal – do setor de seguros é que apenas 10 a 12 milhões desses carros possuem alguma forma de proteção.

Já nos Estados Unidos a conta é mais simples. Pela internet é possível descobrir que havia 135,4 milhões de automóveis em circulação no fim de 2006, dos quais aproximadamente 135,4 milhões tinham pelo menos uma apólice de seguros de responsabilidade civil, com indenizações mínimas de 50 000 dólares. Tradução: não há carro sem cobertura de seguro naquele país.

“Sair da garagem sem ter pelo menos uma apólice de responsabilidade cível é extremamente arriscado devido à probabilidade de o motorista ferir alguém ou destruir a propriedade alheia”, diz o consultor financeiro americano Eric Tyson, autor do livro Personal Finance for Dummies, não publicado no Brasil. O motivo é o mais básico possível: medo. Nos Estados Unidos, o motorista que prejudicar outra pessoa terá de enfrentar uma Justiça cara, rápida, eficiente e implacável.

Os especialistas do setor frisam bem essa diferença. Se um trabalhador informal que usa um carro velho e sem seguro para trabalhar danificar o veículo de outra pessoa nas ruas de São Paulo, o acidentado não pode fazer muito além de reclamar. Não haverá resultado, mesmo que o prejudicado acione o culpado na Justiça. “Se não tiver como pagar, o responsável pelo acidente não paga”, diz Osvaldo Nascimento, executivo responsável pela área de seguros do Banco Itaú e que já trabalhou no mercado segurador americano. “Nos Estados Unidos, se não tiver condições de pagar, ele vai para a cadeia, pois a falta de dinheiro não justifica o não-pagamento de uma indenização”. Lá é tolerância zero mesmo.

Terra sem roubos 
Pode parecer antipático e autoritário, mas esse sistema possui várias vantagens. Como a vigilância é eficaz e a freqüência de sinistros é relativamente baixa, poucos motoristas têm de gastar dinheiro com seguro contra roubo. “O roubo de carros é tão pouco freqüente que não justifica essa despesa”, diz Nascimento. Os americanos preferem se defender dos advogados, não dos outros motoristas. Não por acaso, os seguros – de vida, contra acidentes e principalmente de responsabilidade civil – representam mais de 8% da economia americana. Um em cada 12 dólares gastos no país por americanos vai para alguma forma de seguro.

Tamanha escala faz com que o preço dos seguros para o consumidor final seja bem menor do que no Brasil. No mercado americano, carros como um Civic ou um Corolla são considerados simples. Relativamente baratos – custam ao redor de 28 000 reais, dependendo da versão –, esses modelos podem ser segurados por menos de 800 dólares por ano, se o motorista for uma pessoa com mais de 25 anos e não for famoso.

“Celebridades pagam mais caro”, explica o consultor financeiro Peter Sanders. “Uma artista como Britney Spears chega a pagar três vezes mais que o meu vizinho, que não é uma pessoa conhecida.” Isso tem pouco a ver com o heterodoxo comportamento da cantora ao volante – ela amassou três carros ao sair de uma garagem em Los Angeles no ano passado e recentemente bateu no carro da frente em um congestionamento – e mais com o fato de ela ser uma pessoa pública. “Quem é ferido em um acidente por uma celebridade pode pedir indenizações milionárias, além de o acidente arranhar a imagem pública da celebridade e fazê-la perder negócios”, diz Sanders.

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